

Temos visto ultimamente muitos futuristas por aí, analisando o progresso tecnológico com o propósito de projetar as possibilidades tecnológicas e comportamentais para os próximos anos. Virou moda se dizer futurista. Mas este ofício não nasceu hoje. Os primeiros futuristas surgiram na Itália num passado longínquo: o início do século passado.
O Futurismo nasceu em 1909, quando o intelectual Filippo Tommaso Marinetti, publicou sua “Fundação e Manifesto do Futurismo” no jornal francês Le Figaro. O movimento durou trinta e poucos anos, até a morte de Marinetti, em 1944. Resumidamente, era um movimento libertário que rejeitava o moralismo e o passado. Como os futuristas atuais, também se preocuparam com a velocidade da evolução tecnológica. Apesar do viés humanista, eram estranhamente defensores da violência em particular e das guerras em geral. O Futurismo infiltrou-se em todas as artes e influenciou vários artistas, principalmente aqueles que depois fundariam outros movimentos modernistas.
Obsessão pela novidade

Os futuristas se viam como pioneiros forjando uma civilização a partir do zero. Tommaso Marinetti escreveu no Manifesto do Futurismo: “Por que deveríamos olhar para trás, quando o que queremos é derrubar as misteriosas portas do Impossível?”
O arquiteto que, ironicamente, não teve muito futuro
Um dos principais parceiros de Marinetti no movimento foi o arquiteto italiano Antonio Sant’Elia. Morreu aos 28 anos lutando contra as forças austro-húngaras em 1916, numa guerra em que os futuristas particularmente se engajaram. O arquiteto italiano deixou para trás apenas um edifício concluído: a Villa Elisi, em Brunate, na província de Como, Itália.
Qualquer um que tenha visto o filme clássico Metropolis, do Fritz Lang (1927) ou assistido a Harrison Ford caçar replicantes em Blade Runner, do Ridley Scott (1982), já está familiarizado com a visão de Sant’Elia para a cidade do futuro. Seus desenhos influenciaram de forma evidente o visual desses dois filmes, e até hoje, 100 anos após sua morte, o futuro que ele imaginou ainda faz sentido.

Projetado entre 1912 e 1914, o trabalho pelo qual Sant’Elia é mais conhecido nunca foi construido: a Città Nuova, “Cidade Nova” em italiano – que propunha superestruturas semelhantes às máquinas, arranha-céus entrelaçados com passarelas suspensas e viadutos.
Oxigênio para a humanidade
Nos primeiros anos do século XX, as máquinas estavam mudando a maneira como as pessoas viviam, facilitando seu movimento e estimulando a produção industrial em um ritmo acelerado. Os futuristas ficaram entusiasmados com toda essa velocidade, acreditando que o modo tradicional de vida, e as formas tradicionais de arte e arquitetura, sufocavam o progresso humano; valores claramente percebidos no design de Sant’Elia em sua Città Nuova.
Uma obra interminável

Sant’Elia acreditava que a função principal de uma cidade na era industrial deveria ser facilitar o movimento de seus habitantes da maneira mais eficiente possível. Para sua Città Nuova, ele propôs três níveis de tráfego de acordo com o veículo e a velocidade: viadutos para pedestres, avenidas para carros e trilhos para bondes. Juntamente com os poços de elevador verticais, estas eram as únicas artérias de tráfego na cidade. Sant’Elia também acreditava que a cidade deveria funcionar em um constante estado de construção. “Precisamos inventar e reconstruir a cidade”, escreveu ele. “Deve ser como um imenso, tumultuoso, vivo e nobre canteiro de obras”.
Seus projetos influenciaram arquitetos e urbanistas ao longo do século XX – o mais famoso foi Le Corbusier, cuja obra Ville Radieuse (“Cidade Radiante”), como Città Nuova, de Sant’Elia, não foi realizada e previa planejamento central, facilidade de transporte e a organização de seus habitantes.