Ensinamentos de São MagaiverO que podemos aprender

Uma técnica revolucionária de desbloqueio criativo

Conheça o "Te vira, Mané!" e como aplicá-lo

Uma história das arábias

No início dos anos 90, o arquiteto inglês Tom Wright recebeu uma missão desafiadora do sheik Said Khalil: projetar um hotel que deveria transformar-se no símbolo de Dubai, como a torre Eiffel simboliza Paris. E mais: deveria estar pronto para a virada do milênio.

Depois de muito refletir, Wright teve uma ideia, induzido por uma imagem: olhando para o mar, viu um barco a vela passar e seu cérebro sentiu aquele clic. O hotel teria a silhueta de um barco à vela.

O projeto foi aprovado, mas como todos sabemos desde a infância, todo papel tem como característica aceitar tudo o que nele se rabisca. O desafio estava apenas começando. Transformar aquela ideia ousada em realidade iria exigir muito mais do que boa vontade. E muito papel.

Primeiro rascunho desenhado por Tom Wright no Chicago Beach Hotel em outubro1993.

Tom resolveu construir o hotel em uma ilha para reforçar o conceito de um barco navegando pelo litoral de Dubai. Porém, não havia nenhuma disponível. Mas ele não desistiu, chamou os engenheiros e declarou: “Vamos construir uma ilha artificial!”. Mas logo surgiu a primeira pedra no caminho: a ausência de pedras. Na análise do solo, os engenheiros constataram, desapontados, que era impossível seguir com o projeto naquele local. Perfuraram de Dubai ao Japão, até o pós-sal, e não encontraram nada além do que grãos de areia. Nenhum sinal de pedras e rochas, tão imprescindíveis para uma sólida fundação.

Indiferente a este detalhe insignificante, Tom não moveu um músculo de seu rosto e nem um milímetro em suas ideias. E pronunciou a frase que mudaria os rumos da engenharia civil contemporânea: “Te vira, Mané!”. Contrariados, os engenheiros voltaram para suas pranchetas e depois de muita pesquisa e alguns milhares de neurônios incinerados, eles vieram com a solução. Mas não me pergunte para explicar, porque eu não conseguiria. Pois bem, aqueles engenheiros mal-humorados haviam revolucionado a engenharia civil criando uma maneira eficiente e segura de se construir sobre areia. Gênios da raça.

Os problemas estavam só começando

As ondas do mar castigavam o canteiro de obras. Não era possível construir nada ali. E mesmo que conseguissem, quando o hotel estivesse pronto ofereceria grande perigo às pessoas que estivessem em seu entorno. Mas Tom não se sensibilizou com o desânimo dos engenheiros, e repetiu, suavemente: “Não tô nem aí. Te vira, Mané!”.

Mais uma vez contrariados, os engenheiros saíram da reunião com a modesta missão de controlar uma das maiores forças da Natureza. Depois de muita pesquisa e mais uma impiedosa queimação de neurônios, eles acharam a solução: blocos de concreto com grandes buracos em todas as faces e nenhuma aresta na parte interna. A água entra pelos buracos, gira dentro do bloco e perde sua energia. Simples e eficientes, esses blocos foram produzidos às centenas e colocados em toda a base da ilha artificial. Os engenheiros haviam criado mais um processo inédito, novo, que revolucionou a engenharia civil e os colocou definitivamente nos livros de história.

Balança mas não cai

Outro obstáculo que surgiu foi o tipo de estrutura escolhida para sustentar o prédio. Em função dos fortes ventos da região, a maneira com a qual o arquiteto imaginou, segundo os engenheiros, seria impossível de realizar. O prédio balançaria para lá, balançaria para cá, até o inevitável desastre. E o que o arquiteto disse quando ouviu isso? Adivinha: “Te vira, Mané!

E mesmo xingando Tom de tudo quanto é nome (apenas em pensamento, claro), os rapazes acabaram criando um inédito sistema de amortecedores que resolveu totalmente o problema. Mais uma medalhinha no peito dos bravos engenheiros.

O criativo arquiteto inglês Tom Wright

Mas os desafios eram cada vez maiores e os obstáculos também. Não foi uma nem duas vezes que os engenheiros interpelaram Tom com expressões duras como “O senhor é mesmo um fanfarrão!”. Mas o fato é que o arquiteto tinha o controle criativo da obra, portanto os engenheiros estavam à sua mercê e eram obrigados a botar em prática suas ideias e realizar suas fantasias, por mais insanas que lhes parecessem. Pois a cada “não é possível fazer isso”, eles recebiam de volta um já irremediável “Te vira, Mané!”. Não adiantava dizer que ninguém nunca havia feito aquilo, que não havia referências em nenhum livro de engenharia civil, que as leis da física não podem ser contrariadas, enfim, o arquiteto era irredutível em manter suas ideias intactas.

E foram muitos, mas muitos outros desafios: o restaurante que sai totalmente para fora da estrutura sem sustentação aparente, o sistema elétrico, similar ao de uma cidade de mil habitantes, os fortes ventos dificultando demais o trabalho diário dos operários, a diferença de temperatura de dia e de noite, dilatando e retraindo todos os materiais… E mais: o prazo era apertado, por isso foi necessário produzir o interior do prédio simultaneamente à sua construção.

O briefing foi cumprido

Enfim, o resultado final todo mundo conhece: o arquiteto cumpriu com sua missão. O hotel é hoje o símbolo de Dubai e vice-versa. Um feito notável. E isso só foi possível porque o senhor Wright bateu o pé e não desistiu de suas ideias, a despeito da pressão dos engenheiros, a despeito do “é impossível” e do “nunca foi feito antes”. Isso é um excelente exemplo de como o trabalho criativo funciona. Como nunca ninguém fez antes, é claro que vão surgir obstáculos durante o processo. Estas barreiras não podem ser impeditivas e sim estímulos para avançar ainda mais. Não é fácil. Precisa ter estrutura emocional. Precisa ser persistente. Precisa aguentar pressão. Precisa trabalhar sem se apegar a certezas, confiar na intuição. Mas os resultados são compensadores. Nem sempre. Mas quem pode garantir sucesso, mesmo fazendo o que todo mundo faz?

Os mais criativos são aqueles que continuam onde a maioria desiste

Entre balões e coxinhas

Agora, o mais admirável de tudo é que hoje podemos encontrar vários engenheiros em festas infantis conversando com outros pais, relatando sem modéstia nenhuma: “Sabe aquele hotel em Dubai? Pois então, eu criei uma série de processos novos que revolucionaram a engenharia civil. Hoje eu sou quase um ícone da categoria. Essa coxinha é com catupiry?”. E o pior é que eles são mesmo internacionalmente reconhecidos.

O único porém é que eles só criaram aquelas maravilhas porque foram obrigados. Se dependesse deles, o prédio seria no formato de uma caixa de sapatos, que é o modelo mais fácil, padronizado e seguro de se construir. Você controla todo o processo, sabe como tudo funciona e não tem dor de cabeça. Se não fosse o Tom Wright exigir que as coisas fossem feitas do jeito que ele queria, os engenheiros não poderiam usar este argumento entre balões e brigadeiros, não teriam seu passe tão valorizado nem teriam entrado para os anais da engenharia como um grupo dos mais criativos da história.

Steve Jobs, um incomparável adepto do “Te vira, Mané!”

Obcecado por inovação e qualidade, fazia seu pessoal suar sangue. E tipo O+, senão não servia. Exigente e mal-educado, quase um déspota, não aceitava não como resposta às suas solicitações, fazendo a vida de todo mundo um inferno. Não tinha conversa: quem quisesse trabalhar na mais valiosa empresa de tecnologia do mundo, tinha de se virar do avesso.

O resultado deste manicômio chamado Apple foi o que se conhece: eles revolucionaram a vida das pessoas, com produtos e serviços de alta octanagem. Steve Jobs dizia que “as pessoas não sabem o que elas querem até que você mostre para elas”. Um pensamento evidente de quem quer reinventar a sociedade e não apenas evoluir aos poucos como a maioria. Ou como diz em um famoso comercial da empresa, “as pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo, são aquelas que o fazem”.

Não quero dizer aqui que é preciso ser um facínora sanguinolento para ser inovador, mas que ajuda, ajuda. Pessoas muito legais, por princípio, não tem o traquejo e talvez nem a vontade de exigir que as pessoas trabalhem até o limite de sua criatividade. Não tem estômago para aplicar o “Te vira, Mané!” até o limite de suas forças. Prova disso é que desde que o Steve morreu, a Apple parou de revolucionar o mundo para se transformar em uma Samsung com design.

O que você pode aprender

  • Todo mundo é criativo
  • Jamais devemos desistir de uma ideia só porque ela nos parece impossível naquele momento.
  • Uma ideia original obviamente nos trará muitos problemas que até então não existiam.
  • Quando somos obrigados a resolver um problema, somos propensos a buscar soluções originais e até então consideradas ousadas demais.
  • As pessoas mais indicadas para inovar são aquelas com maior conhecimento da matéria em questão
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Como utilizar a técnica

Se você tiver uma empresa ou simplesmente pessoas sob seu comando, tente usar o “Te vira, Mané!” e você vai ver a eficiência surpreendente desta técnica tão simples. É claro que você tem de explicar antes o porquê de estar fazendo isso, senão pode parecer que você é apenas um canalha insensível, e nós sabemos que não é o caso.

Mas o “Te vira, Mané!” pode ser utilizado também por indivíduos. Você com você mesmo. Basta colocar o logotipo em algum local visível em sua área de trabalho. Pode ser um pequeno botton colado em seu computador, mas pode ser também um adesivo gigante na parede. Porém, devo alertar que esta modalidade é só para os fortes. Para funcionar sem quem haja um líder que comande o processo, você precisará ter fibra, capacidade para se desafiar, de se comprometer consigo mesmo e muita força de vontade para ir até o fim do processo. Sem desculpas, sem choro nem aquele cilindro de parafina com um pavio no meio.

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Exercício da Semana
Todas as semanas publicamos um exercício novo. Não deixe de fazê-los. Repita algumas vezes. Se achar que precisa de mais, procure mais exercícios na internet. Crie uma rotina e não falhe. Posso garantir que sua capacidade criativa vai crescer conforme sua experiência. Boa sorte.
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São Magaiver

Santo protetor da Criatividade e da capacidade de nos adaptarmos à novas situações de maneiras inusitadas. Ele é o mestre das soluções de problemas, um verdadeiro modelo de comportamento no que diz respeito à utilização do que se tem a mão para resolver problemas dos mais diferentes tipos.

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