Heil, Fanta! A história do refrigerante criado na Alemanha nazista
Fabricado com fibras de maçã, açúcar de beterraba e um subproduto de queijo, era uma autêntica gororoba líquida
Mark Pendergrast, autor do livro For God, Country and Coca-Cola conta uma história que nada tem a ver com a imagem jovem e divertida do refrigerante Fanta que vemos na TV e na internet nos dias de hoje.
Em 1895, a Coca-Cola estava presente em todos os estados e territórios americanos. Em 1920, a primeira fábrica de engarrafamento na Europa foi aberta na França e, em 1929, a Coca já era engarrafada e consumida na Alemanha.
Em 1933, quando Hitler chegou ao poder, o alemão Max Keith assumiu a subsidiária alemã da empresa, a Coca-Cola GmbH. Keith tinha um bigodinho a la Hitler mas Pendergrast afirma que ele não era nazista, mas um cocacolista, já que “era mais fiel à bebida e à empresa do que ao próprio país”.
Parceria com a Alemanha nazista
A Coca-Cola Company não se preocupou nem um pouco com o crescimento do nazismo na Alemanha. Ao contrário: patrocinou os Jogos Olímpicos de Berlim de 1936 quando fez banners com o logotipo da Coca ao lado da suástica.

A Coca-Cola não estava sozinha em ignorar as crescentes agressões de Hitler. Outras indústrias estadunidenses, tipo Hollywood, ignoraram as atrocidades e o desrespeito aos direitos humanos na Alemanha nazista e mantiveram alegremente seus negócios com os alemães.
A invasão da Europa por Hitler, em 1939, não prejudicou Keith nem a matriz da Coca-Cola nos Estados Unidos. A empresa manteve o fornecimento de xarope e suprimentos à subsidiária alemã, que expandiu seus negócios trabalhando com os países conquistados pela Alemanha: Itália, França e Holanda.
Em 1940, a Coca-Cola era a líder absoluta dos refrigerantes na Alemanha nazista. Diz a lenda que existe uma foto nos arquivos da empresa do líder nazista Hermann Göring tomando uma garrafa de Coca-Cola. Dizia-se também que Hitler gostava de assistir a filmes estadunidenses como “E o Vento Levou” apreciando sua coquinha gelada.
Os Estados Unidos entram na guerra. E a Coca-Cola sai da Alemanha
Em 7 de dezembro de 1941, o Japão bombardeou Pearl Harbor e os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial. As empresas de lá tiveram que interromper imediatamente todas as atividades comerciais com o, agora, inimigo. O quartel-general da Coca-Cola cortou as comunicações com Keith na Alemanha e interrompeu o envio do aroma 7X (a famosa fórmula supersecreta da Coca-Cola).
A subsidiária alemã estava prestes a quebrar. Keith, obviamente, não conseguia fabricar Coca-Cola e, a qualquer momento, o governo nazista poderia tomar sua empresa. Mas ele teve uma ideia: criar uma bebida alternativa para o mercado alemão.
Uma gororoba líquida
Keith e seus químicos criaram uma receita dentro das limitações impostas pelo racionamento comum aos tempos de guerra. Utilizava sobras de outras indústrias de alimentos: aparas de frutas, fibras de maçã e polpa, açúcar de beterraba e soro de leite, o líquido restante na produção de queijo. Para criar essa gororoba líquida, Keith disse a sua equipe para usar a imaginação. E surgiu a Fanta, abreviação da palavra alemã para “fantasia”. Em 1943, as vendas atingiram quase três milhões de unidades.
A produção de Fanta foi interrompida antes do final de 1945, logo após a rendição da Alemanha. Mas os esforços de Keith em manter a Coca-Cola GmbH operando foram recompensados. Ele acabou comandando as operações da empresa na Europa do pós-guerra.
O retorno
Em abril de 1955, a Coca-Cola reintroduziu Fanta com uma nova receita, desta vez com sabor de laranja. Estreou na Itália, antes de chegar aos Estados Unidos em 1958. De acordo com Pendergrast, eles reutilizaram o nome porque era conveniente. Afinal, a Coca-Cola já tinha os direitos autorais. “Não acho que ninguém da Coca-Cola tenha se importado que a Fanta tivesse raízes dentro da Alemanha nazista”, diz Pendergrast, “provavelmente eles achavam que ninguém prestaria atenção”.