Realidade não existe. É apenas uma invenção do nosso cérebro
O cérebro, ingenuamente, considera verdade absoluta tudo aquilo que chega por meio de seus sentidos
Você conhece uma mulher em uma festa, conversam muito e ela demonstra estar bem interessada. Você vai pra casa feliz da vida, sentindo-se o Homem do Ano. Mas, na verdade, aquela mulher detestou você, só que, por alguma razão, resolveu esconder isso. Mas como você achou que ela tinha gostado, ficou todo pimpão. E a situação inversa? A mulher fez questão de mostrar desagrado com a sua figura, mas na verdade estava bem a fim. Você vai para casa arrasado pelo sentimento de rejeição.
Podemos ser amados de fato por milhões, mas, se por alguma razão, não acreditamos ou não percebemos isso, poderemos sofrer as dores da desaprovação. Inversamente, uma pessoa odiada, mas que não sabe ou não sente que o é, não sofrerá nem por um segundo. Notou que não faz diferença nenhuma? Se a pessoa de fato o aprova ou o desaprova? Que é tudo questão de percepção? De você “achar” que é uma coisa ou outra? E se é apenas uma questão de percepção, não seria mais inteligente se nós não ficássemos tão a mercê daquilo que consideramos realidade? Se a pessoa gostou, ok, se não gostou ok do mesmo jeito? Seria, mas não é assim que funcionamos.
Nosso sistema de sobrevivência não é baseado na “realidade”, mas na percepção individual. Percepção esta, objetiva ou imaginária. Aliás, “realidade” não existe. A percepção de realidade é o que nos orienta. E é individual e intransferível. Eu tenho a minha e você tem a sua. Não enxergamos o mundo como ele é, mas como o percebemos, em função de nosso repertório pessoal. Estamos sempre tentando associá-lo às situações que conhecemos para tentar explica-las, ou seja, para que o cérebro entenda o que está acontecendo, ele vai buscar informações correspondentes em sua biblioteca. E só aí tirará suas conclusões. E isto, obviamente, gera infinitas interpretações para um mesmo fenômeno. Cada cabeça um sentença, não é assim? Não precisa ser competente, basta parecer ser.
Você gosta de novela?
Lamento muito mas terei de fazer uma revelação que irá, certamente, destruir alguns castelos que sua mente construiu e que o faz uma pessoa mais feliz. Mas não posso me furtar a ser o mensageiro de uma notícia desagradável, já que escolhi uma profissão que exige isso de mim. Pois bem, aí vai. Sabe aquelas pessoas que aparecem em novelas e filmes? Sinto muito dizer, mas elas estão mentindo. Isso mesmo. Fingem ser quem não são. Desculpe ter revelado isso assim de supetão, mas é como tirar um esparadrapo: é melhor de uma vez só. Ah, você já sabia disso? Sabia que aquela gente são atores se fazendo passar por outras pessoas? Mas se sabia, porque chora quando morre alguém, fica revoltado quando se faz uma injustiça ou fica feliz quando o bem vence?
Nosso cérebro só capta percepções, não há como distinguir o que será verdadeiro ou falso. Ao assistirmos a filmes ou novelas e etc., sabemos que é ficção, que são atores a frente de uma câmera e um monte de gente por trás dela. Mesmo sabendo disso, sofremos, nos emocionamos, nos assustamos, rimos, como se aquilo tudo fosse verdade. Você já deve ter ouvido falar de gente que agride atores na rua que fazem papel de vilões em novelas, não ouviu? Pois então, estas pessoas sabem que são atores, mas seu cérebro acredita na história que está sendo contada. Ele sabe o que se passa, mas por alguns momentos faz o favor de não atrapalhar a fantasia. A percepção. A percepção.
O cérebro foi feito para acreditar
Resquício de nosso passado longínquo, o cérebro ainda se comporta em alguns momentos como se irracionais fôssemos. Como em todos os animais, ele foi programado para acreditar nos sentidos, sem discussão, sem reflexão. Porém, o nosso possui uma característica diferenciada que faz com que tenhamos a capacidade de questionar tudo, inclusive nossos próprios sentidos: a Razão.
O cérebro acredita em tudo porque aprende com o que capta à sua volta. Não seria possível o aprendizado se nossos sentidos fossem questionados o tempo todo. Animais irracionais jamais questionam seus sentidos. Para eles, os sentidos são a representação da realidade. E, apesar de termos desenvolvido a Razão, ainda sofremos forte influência desta característica ancestral. Nosso impulso imediato é acreditar no que as pessoas dizem, no que está escrito em algum lugar, nas imagens que assistimos num vídeo, etc. É a Razão que, se quisermos, coloca estas informações em dúvida, que questiona. O que, sejamos sinceros, raramente acontece. Os políticos, a propaganda e a mídia em geral, sabendo disso, se utilizam de forma sistemática da criação de “realidades alternativas”, para dar um nome bonito a uma tremenda sacanagem chamada manipulação.
Pode acreditar.