Nosso cérebro adora certezas. Quando não encontra, inventa
Segunda parte do artigo que fala sobre os padrões que nos regem e controlam
Nosso conforto emocional está diretamente relacionado ao conjunto de padrões que vamos acumulando ao longo de nossa vida. São como uma construção que começa assim que nascemos e só termina quando damos adeus a este mundo. Tijolinhos que vamos empilhando com todo cuidado. Conforme vamos vivendo, vamos ampliando nossa humilde morada. Cada cômodo é uma crença que vamos erguendo em nossa vida. Um sólido castelo construído ao longo do tempo. Quanto mais velhos vamos ficando, maior é o nosso castelo e, portanto, maior a dificuldade de rever posições, de quebrar algumas paredes. Porque cada padrão que quebramos é uma parede que se vai.
E é isso que acontece em nosso cérebro. Cada vez que a construção que temos em nossa mente se mostra ultrapassada, equivocada, contraditória, temos de botá-la abaixo, mas, antes disso, negamos que seja necessário. Em geral criticamos a informação nova como perniciosa, ultrajante, subversiva. É uma tentativa louca do cérebro de não precisar quebrar um padrão, de não mudar uma ideia que já está consagrada em nossas mentes, de não ter que reformar o castelinho mais uma vez.
Os padrões são fundamentais para a nossa existência. Mas, ao mesmo tempo, podem ser a nossa derrocada, em função da espécie de prisão que eles nos colocam. A dependência que temos deles para viver.
O cérebro aprende com a vida
Nenhum animal nasce sabendo. Mais ou menos. Todos temos um sistema operacional que nos faz a capaz de passar pelos primeiros momentos de nossas vidas com maior probabilidade de sucesso. No caso dos humanos, por exemplo, nascemos sabendo mamar, rir, chorar, fazer nossas necessidades fisiológicas. Porém, todo o resto deverá ser aprendido ao longo do tempo. E o cérebro usa as informações que recebe por meio de nossos sentidos como fontes inquestionáveis da verdade. Para nós, a realidade é aquilo que nossa percepção capta dos movimentos da vida.
E aprender, então, nada mais é do que criar padrões. É quando introjetamos uma informação de tal forma que ela passe a fazer parte de nosso repertório. E nossa capacidade de aprender se manifesta de algumas formas diferentes:
Imitação – Talvez o mais importante e eficiente de todos. Desde que nascemos nos utilizamos desta ferramenta, que nos faz, de maneira prática e objetiva, aprender o que é “certo” e o que é “errado” para os grupos sociais aos quais por ventura pertençamos.
Aprendizado Passivo – É a didática propriamente dita. Alguém, conscientemente ou não, nos ensina sobre algum assunto e nós tentamos propositadamente absorver as informações passadas. Escolas são os locais onde o Aprendizado Passivo ocorre com mais frequência.
Aprendizado Ativo – É a maneira mais estimulante e ao mesmo tempo dramática de se aprender, de se criar padrões. Você vive uma situação em que, em função do resultado de suas ações, conclui o que é “certo” e o que é “errado”. É o aprendizado por experiência. E que por ser assim se torna o mais sólido de todos. Você aprende que o fogo queima não porque alguém te disse, mas porque na sua experiência pessoal o fogo deixou sua marca.
Formas de se criar e/ou quebrar padrões
A grosso modo, existem apenas duas maneiras:
a) Em conta-gotas – a repetição exaustiva de um pensamento, uma situação, um sentimento, gerando uma programação ou reprogramação mental.
b) Dose única – um evento dramático e marcante gerando uma nova programação ou alterando drasticamente uma já existente. Quantas vezes precisamos dizer para uma criança que uma tomada dá choque até ela aprender? E se ela puser de fato o dedo na tomada, quanto tempo ela vai demorar para aprender a lição? É a principal característica do Aprendizado Ativo.
Independente de qualquer coisa, parece que quanto mais quebramos padrões, mais precisamos deles. Ou seja, não há ninguém, por mais libertário e independente que seja seu espírito, que não necessite em seu íntimo de um porto seguro para os momentos de tormenta.
O cérebro busca lógica o tempo todo. Sem ela, ele se perde
O cérebro aprende com a vida e ele precisa de ordem e lógica para se manter equilibrado e funcional. E o que é ordem ou lógica senão um conjunto de padrões? O aleatório provoca um tremendo desconforto e o cérebro o evita a todo custo. Ele precisa de certezas para viver. E vai buscá-las obsessivamente durante toda nossa vida. E quando não encontra, inventa. A verdade é o que menos importa para o cérebro. O conforto é seu objetivo principal.
Quando um evento ocorre uma vez o cérebro parte do princípio de que aquilo é o correto. Se o evento se repete a certeza vai ficando maior. E quanto maior a repetição, mais certeza o cérebro vai adquirindo. Mais sólido e profundo vai se desenvolvendo um padrão. O cérebro não pode, ou não quer, se dar ao luxo de adquirir qualquer tipo de conhecimento que necessite de foco e atenção constante. É desperdício de energia termos de raciocinar toda vez que, por exemplo, formos operar uma máquina. Aprendemos a usá-la e a partir daí ficamos no automático.
Ao criar padrões eliminamos a necessidade de avaliações e dissertações sobre assuntos que acreditamos já conhecer. O não estabelecimento de padrões põe em risco este conceito, pois exigiria que o cérebro mantivesse foco sobre vários assuntos ao mesmo tempo, o que é fisicamente impossível.