Experiência prova que somos todos gado
Segunda parte do artigo falando sobre o impacto da Opinião dos Outros em nossas vidas
Aonde a vaca vai…
A pressão de grupo é tão forte em nossa psique, seja real ou imaginária, que acaba por promover um fenômeno no ser humano chamado, por Solomon Asch, de Conformismo, ou seja, se pudermos escolher, preferimos não arriscar um enfrentamento social. E para provar este fenômeno, ele produziu uma experiência sensacional chamada Estudo da Conformidade. Daí a expressão Aschismo.
Solomon Asch nasceu em Varsóvia, na Polônia, em 14 de setembro de 1907 e mudou-se para os EUA com sua família em 1920. Completou seu Doutorado em 1932 na Universidade de Colúmbia e na década de 1950 começou a elaborar suas pesquisas acerca da pressão social exercida pelos grupos. A pergunta que ele pretendia responder era: como e até que ponto as forças sociais moldam as opiniões e atitudes das pessoas?
Asch colocava várias pessoas em uma sala e fazia perguntas simples, muito óbvias. Apenas uma pessoa ali estava sendo testada, as outras estavam em conchavo com o pesquisador. Para ficar mais claro, vamos chamar as pessoas que estavam combinadas com Asch de Assistentes e a solitária cobaia de Trouxa, quer dizer, acho melhor chamar de Voluntário.

As questões apresentadas eram do tipo: numa extremidade de um cartaz mostramos três colunas de tamanhos diferentes. Na outra extremidade, uma coluna que possui o mesmo tamanho de uma das outras três. A pergunta era simples: qual destas três colunas tem o mesmo tamanho que aquela coluna solitária?
Numa primeira rodada todo mundo respondia a pergunta corretamente. Mas a partir de um determinado momento, os Assistentes passavam a escolher deliberadamente a coluna errada, obviamente errada. E todos os assistente escolhiam a mesma, ou seja, eram unânimes, para deixar claro ao Voluntário a opinião do grupo. O Voluntário, ao chegar sua vez de dizer o número correto, em geral vacilava, mas mantinha sua opinião. Porém, de um determinado momento em diante, o Voluntário não suportava mais a pressão e passava a concordar com o grupo, por mais óbvio que fosse o engano.
Uma outra curiosidade é que o tamanho do grupo influia no comportamento dos voluntários. Mas de forma diretamente proporcional e até um certo limite. Quando confrontado com apenas um Assistente, o Voluntário dificilmente mudava de opinião. Contra dois assistentes, o Voluntário aceitava a resposta errada em 13,6% das vezes. Se fossem três Assistentes, o erro subia para 31,8% e permanecia estável. Isto é: a partir de três oponentes o tamanho da unanimidade já não fazia mais tanta diferença.
Após várias experiências, Asch chegou à conclusão de que isoladamente interrogados, ou seja, sem a presença dos Assistentes, os Voluntários responderam corretamente 99% das vezes. Contudo, em grupo, nas condições descritas acima, 37% revelaram conformismo e seguiram a opinião errada dos outros membros do grupo. De qualquer modo, 25% dos voluntários não se conformaram em nenhuma rodada de perguntas, mantendo-se fiéis às suas opiniões. 75% se conformaram pelo menos uma vez. E 5% se conformaram todas as vezes.

O fato de 63% terem revelado independência não impediu que Asch chegasse à uma conclusão: “Este resultado levanta questões sobre o modo como somos educados e sobre os valores que guiam a nossa conduta”. E completou: “O desejo de fazer parte do grupo é maior do que a vontade de dizer a verdade”.
Uma das formas mais importantes de aprendizado que utilizamos é a imitação, outra manifestação de nossa necessidade de viver em grupo. Por isso essa característica nossa é tão marcante. Quando nossa capacidade de aprendizado através da imitação está desregulada, esta nossa inegável qualidade faz com que mudemos de opinião para acompanhar o grupo. Na verdade podemos nem estar mudando de opinião de fato, apenas expressando a mudança da boca pra fora para não enfrentar o grupo e não sofrer uma eventual pressão: real ou imaginária. É o medo da Opinião dos Outros. O medo do “Você é um idiota!”.
Na experiência de Asch, os Voluntários acabavam se curvando à opinião dos Assistentes, ou seja, à Opinião dos Outros, para não se sentirem “errados”. O mais curioso é que aquele era um grupo muito frágil. Pessoas que nunca se viram e jamais se veriam novamente. Qual o problema de discordar de pessoas assim? Pois é, o inconsciente vê problemas reais nisso. Para ele, grupo é grupo, não importa a qualidade ou longevidade. A partir do momento em que a possibilidade da formação de um grupo é detectada, o cérebro se posiciona para acompanhá-lo, ou, caso nos sintamos totalmente incompatíveis, abandoná-lo, a não ser que essa decisão implique em solidão.
Uma dos efeitos colaterais da preocupação com a Opinião dos Outros, são as chamadas mentiras sociais. O mais curioso não é que as pessoas acreditem nelas, apenas consideram melhor ouvir a mentira favorável do que a verdade desconfortável. Mentimos e todo mundo sabe disso. Do contrário, se dissermos a verdade, seremos execrados. Ao mesmo tempo, contraditoriamente o conceito de mentira é altamente censurável pela sociedade e de que só devemos respeitar aqueles que dizem a verdade.